Você acredita que o simples fato de utilizar o seu carro ou de comer um filé mignon no almoço, contribui para a ocorrência de furacões no Sul e Sudeste do Brasil ou de potenciais inundações no litoral carioca? Se a sua resposta for negativa, eu recomendo que você leia este artigo até o final.
Vou apresentar ao leitor e, principalmente, aos profissionais das áreas ambiental e de sustentabilidade, uma lógica simples e absolutamente poderosa que estabelece uma relação profunda entre as ações diárias no nosso trabalho e nas nossas vidas pessoais, com o futuro da nossa vida no planeta.
A pandemia que estamos vivenciando atualmente trouxe para a superfície da sociedade um conceito ainda pouco conhecido: o Efeito Borboleta. Esse termo refere-se à dependência sensível das condições iniciais de uma ocorrência dentro da Teoria do Caos. Esse efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz (meteorologista, matemático e filósofo Norte Americano) quando estudava previsões meteorológicas no Massachusetts Institute of Technologies (MIT). Ele descobriu que mudanças muito pequenas numa série de equações que definiam uma ocorrência meteorológica poderiam resultar em catástrofes climáticas em algumas áreas dos Estados Unidos. Traduzindo este fenômeno para a cultura popular, dizemos no Brasil que: “o bater de asas de uma borboleta no Japão pode causar um tufão no Rio de Janeiro”.
Um exemplo bem atual deste fenômeno é a pandemia que estamos vivendo, resultado da redução na população de morcegos numa região da China. Sabemos, que o vírus da COVID-19 que foi obrigado a escolher um outro hospedeiro (o ser humano) para manter o seu equilíbrio populacional. Ou seja, um desequilíbrio ecológico aparentemente local tem um efeito catastrófico mundial. Uma verdadeira prova da ocorrência de um Efeito Borboleta.
Fica claro, dessa forma, para a sociedade que este conceito, quando aplicado às áreas das ciências naturais, tem implicações profundas para a sustentabilidade e bem-estar das nossas vidas no planeta.
Uma pessoa comum poderia até ter o direito de ignorar o efeito em cadeia das ações do ser humano impactando os recursos naturais, mas nós, que somos profissionais das ciências naturais, não temos mais este direito. Uma pessoa comum poderia até duvidar ou não entender os reais impactos do aquecimento global, mas nós, profissionais que estamos nesta “linha de frente” com os recursos naturais, temos a obrigação de promover mudanças que viabilizem a vida no planeta nos próximos anos.
Já sabemos que, cientificamente falando, o tripé da sustentabilidade não consegue se manter em pé, caso as 3 dimensões (ambiental, social e econômico) não estejam equilibradas. Infelizmente, a maioria esmagadora das decisões que tomamos, como pessoas comuns, diariamente, são baseadas em questões econômicas. Até por questões de “sobrevivência”, muitas vezes (que ironia!) temos que buscar o mais barato. Quando nos referimos ao melhor “custo-benefício”, geralmente estamos nos apoiando no benefício econômico da nossa decisão. Ou seja, muito pouco consideramos dos benefícios sociais e ambientais nas nossas decisões. Por mais que, por vezes, busquemos produtos baseados em uma “causa socioambiental”, todo o sistema nos obriga a escolher a opção economicamente mais vantajosa, em vários sentidos. Resumindo, o nosso tripé da sustentabilidade está sempre desequilibrado.
Diante deste cenário, a responsabilidade de buscar alternativas para reduzir o aquecimento global, reduzir a perda de diversidade, proteger os recursos hídricos e garantir a disponibilidade de proteína para futuras gerações, sem dúvida alguma, está nos governos e na sociedade como um todo. Mas, a nossa responsabilidade, como profissionais que atuamos diariamente em projetos ambientais e de sustentabilidade, na liderança destas mudanças para um futuro que se mostre viável, é irrefutável. Não podemos mais ignorar o Efeito Borboleta. Se você não acredita que o seu trabalho fazendo um simples licenciamento ambiental, coletando qualquer amostra de água, ar, solo, espécies vegetais, espécies animais ou mesmo escrevendo um relatório ambiental de qualquer tipo, pode ter um efeito em cadeia sobre a vida do planeta, é melhor mudar a sua atitude.
Como prometi no início deste artigo, caso você não seja um desses profissionais mencionados no texto, gostaria de concluir este texto com um único exemplo interessante e perturbador de como a nossa atitude diária como cidadão comum contribui para mudar o cenário ambiental do mundo.
Acompanhe comigo esta lógica: o aquecimento global é um resultado, principalmente, dos efeitos das emissões de CO2. Veja, a maior fonte atual desses gases é a queima de combustíveis fósseis no mundo. Ou seja, se você não tem um carro elétrico, a sua contribuição é, no mínimo, diária para este processo. Ainda não dá para imaginar que o efeito do seu deslocamento para o trabalho seja tão catastrófico assim para o planeta. Certo?
Agora, assuma que você comeu arroz, feijão e carne no seu almoço. A produção de grãos no mundo tem alguns efeitos, no mínimo, sinistros. O desmatamento de uma floresta para o plantio de grandes zonas agrícolas reduz a zero, a capacidade de retenção de CO2 dessas áreas. Ou seja, este gás não pode ser capturado pela fotossíntese e vai para atmosfera. Além disso, o plantio intensivo de grãos depende da queima de combustíveis fósseis (novamente!) e o uso de pesticidas pode levar a uma contaminação cumulativa dos recursos hídricos, principalmente nas áreas onde as chuvas aumentaram graças ao aquecimento global (opa, de novo o CO2 trazendo seus efeitos!). Nem vou mencionar aqui os impactos de toda cadeia de produção de sementes e insumos agrícolas, pois a análise ficaria muito multidimensional. Agora, vamos falar da carne. A produção intensiva de carne depende, também, de grandes áreas agrícolas (desmatamento de novo!) para produção de soja e milho que alimenta o gado. Ou seja, considere novamente todos os efeitos mencionados acima. Complicou muito a análise?
Como eu disse, existe uma relação profunda entre as ações de uma pessoa comum dirigindo para o trabalho e comendo sua refeição tradicionalmente brasileira, com as maiores causas ambientais do nosso planeta. Este é o nosso Efeito Borboleta de cada dia.
Se você ainda não tem certeza de que este ciclo, aparentemente catastrófico, está muito mais próximo dos nossos dias atuais, por favor, atente para os seguintes dados publicados no site www.livescience.com:
A INSITE Ambiental é a única empresa do mercado que faz recolocação, aconselhamento de carreira e desenvolvimento profissional exclusivamente nas áreas ambiental, saúde e segurança e sustentabilidade. A INSITE também é uma plataforma de serviços ambientais, que disponibiliza uma lista de fornecedores pré-qualificados para mais de 400 ítens.
Editor: Rubens Oliveira Jr.
Foto: Pixabay
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